quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

José Roberto dos Santos - Livro: APRENDER A ESCREVER (RE) ESCREVENDO Linguagem e letramento em foco. SÍRIO POSSENTI; Professor livre-docente no Departamento de Linguagem do Instituto de Estudos da José Roberto dos Santos - Linguagem – IEL/ Unicamp (Pag. 05 a 23)




UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS X
LICEEI: LICENCIATURA INTERCULTURAL EM EDUCAÇÃO
ESCOLAR INDÍGENA

DISCUPLINA: Língua portuguesa e sociolinguística indígena II.
DOCENTE: Maria Nazaré Lima

POSSENTI, Sírio. Aprender a escrever (re) escrevendo. Campinas: IEL/UNICAMP, 2005. (Linguagem e letramento em foco).

                            Resenhado por: José Roberto dos Santos


Linguagem na escola

No primeiro momento o autor argumenta a ideia que poderia convencer os leitores que é desnecessário ensinar gramática na escola para obter domínio de uma língua e tornar cidadãos leitores hábeis. Na análise da língua é preciso estar convencido que a gramática não é indispensável para o ensino, deve-se primeiro pensar no estudo da gramática e depois no domínio ativo da língua. Sabe-se que a questão do ensino da gramática na escola tem sido longamente discutida.
A discussão continua atual, porque o professor precisa decidir sobre o ensino de gramática na escola, qual a proporção de tempo destinado ao ensino da língua analisando cada uma das estratégias (leitura, redação, gramática, etc), além do fato de que a decisão pode variar conforme o nível de ensino e o tipo de classe, ou até mesmo o tipo de escola. Outra razão é que esta discussão revela diferentes orientações didáticas (ensinar a partir do uso observado, ou ensinar a partir de regras), diferentes concepções do papel da língua numa sociedade cheia de contrastes como é a nossa (serve para a comunicação ou abre acesso a oportunidades de emprego) e diferentes objetivos atribuídos às escolas de primeiro e segundo graus (preparar para a vida ou preparar para o vestibular, dois objetivos que só coincidem para um número limitado de alunos), embora tenha ocorrido mudança no discurso, a prática escolar continua a mesma.
As duas primeiras maneiras de definir “conjunto de regras,” dizem respeito ao comportamento oral ou escrito dos membros de uma comunidade linguística. A terceira maneira de definir a expressão refere-se a hipóteses sobre aspectos da realidade mental dos mesmos falantes. Vou detalhar um pouco essas três noções, de modo a caracterizar três tipos de gramática ou três sentidos um pouco mais precisos para a palavra “gramática”. Uma observação indispensável, quando se fala de pronomes é que no português do Brasil, a regra de colocação de pronomes átonos ainda encontrados na gramática são ensinados na escola como desejáveis evidentemente em decorrência de uma visão equivocada da língua. Só é possível entender que ainda se suponha que aquelas regras funcionam ou pelo menos deveriam funcionar, por absoluto saudosismo e purismo. Exemplo: vós fostes, vós víeis, sairei, dormirá, fora, (tu em algumas regiões, nós X a gente).
A terceira definição de gramática – conjunto de regras que o falante domina, refere-se a hipóteses sobre os conhecimentos que habilitam o falante a produzir frases ou sequências de palavras de maneira que compreende e reconhece como pertencimento a uma língua.
Há dois sentidos em que se pode falar de regras, um deles traz consigo a ideia de obrigação e a outra no sentido de etiqueta e do bom comportamento. Quem o transgride é apontado como grosseiro, marginal ou caipira e pode ser reprovado.
 A regra gramatical normativa expressa uma obrigação do certo e do errado, para esta, a língua corresponde às formas de expressão observadas, produzidas por pessoas cultas, de prestígio, enquanto a gramática descritiva, nenhum dado é desqualificado como não pertencente à língua, ou seja, em princípio nenhuma expressão é encarada como erro, ao contrário, a gramática descritiva encara e considera um fato a ser descrito e explicado. A noção mais corrente de erro é a que decorre da gramática normativa: é erro tudo aquilo que foge a variedade que foi eleita como exemplo de boa linguagem.
Na metodologia rapidamente sugerida, ensinar gramática pode continuar a ser um objetivo válido, lembre-se, porém que há pelo menos três concepções de gramática, o que se sugere é que a prioridade a adotar na escola deve ser inversa da seguida na apresentação desses conceitos, o mais importante é que o aluno possa vir a dominar efetivamente o maior número possível de regras.
Nesse sentido, o papel da escola não é o de ensinar uma variedade no lugar da outra, mas de criar condições para que os alunos aprendam a variedade de uma cultura mais elaborada. É um direito elementar do aluno, ter acesso aos bens culturais da sociedade, e é bom não esquecer que para muitos, esse acesso só é possível através do que lhe for ensinado nos poucos anos de escola.

(Referência da escrita Puhuyakuá Pataxó).

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