UNIVERSIDADE DO ESTADO
DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE
EDUCAÇÃO, CAMPUS X
LICENCIATURA
INTERCULTURAL EM EDUCAÇÃO ESCOLAR INDIGENA – LICEEI
COMPONENTE CURRICULAR: FORMAÇÃO
DO PROFESSOR PESQUISADOR INDÍGENA lV
NÁDIA BATISTA DA SILVA
O processo de alfabetização entre os Tupinambá de
Olivença: para quê e para quem alfabetizar?
TEIXEIRA DE FREITAS
BA – 2013
NÁDIA BATISTA DA SILVA
O processo de alfabetização entre os Tupinambá de
Olivença: para quê e para quem alfabetizar?
Texto
apresentado a Dra. Maria Nazaré Mota de Lima, ao Curso de Licenciatura em
Educação Escolar Indígena – LICEEI, a Universidade Estadual de Santa Cruz –
UNEB, como requisito avaliativo da disciplina de Linguagem.
TEIXEIRA DE FREITAS
BA - 2013
O processo de
alfabetização entre os Tupinambá de Olivença: para quê e para quem alfabetizar?
Nádia Batista da Silva [1]
Ramon Souza Santos[2].
A nossa experiência enquanto professor (a)
indígena foi iniciado a partir da década de 1990, junto ao Coletivo de
Professores Populares da Região Cacaueira- CAPOREC, com a EJA, baseada nas
obras de Paulo Freire, que norteou a nossa maneira de refletir e agir, sobre
qual a educação que queremos pra nossa comunidade enquanto povo e nos fez
refletir a Educação Escolar Indígena, e
seus, desafios num contexto maior que é
político, social e econômico. O CAPOREC – Coletivo de Alfabetizadores Populares
da região Cacaueira foi formado a partir da vinda de Paulo Freire aqui na
região em 1992.
Para nós do Povo
Tupinambá de Olivença que iniciou o processo de alfabetização tanto com criança
e também com a EJA, acompanhamos muitas famílias onde, parte das crianças que
nunca havia estudado, e dentre elas,
algumas ainda não tinham contatos com a
sociedade fora da aldeia ( Olivença), pois viviam mata adentro devidos aos
massacres que ocorreram no decorrer da história e fizeram com que as gerações
que antecederam aos seus pais, ao optarem pela sobrevivência foram brutalmente
obrigados a viverem isolados e negando a sua identidade cultural, com medo de
serem torturados como os nossos ancestrais.
No momento em que percebemos a importância da educação, e
do direito que temos garantidos na Constituição Federal, inicia-se uma nova
perspectiva, e consciência daquele momento da apropriação do protagonismo do
nosso povo, que em sua maioria adulta não tinham se quer documentação, ou seja,
não existíamos para a sociedade civil enquanto cidadãos de direitos. E um novo
momento nos remetia às reflexões como: existência, visibilidade, acessibilidade
às informações, organização política e etc. Uma série de questionamento, nos
toma com interrogações e perspectivas de que estamos vivendo um novo momento,
na busca dos direitos garantidos na CF que é violado aos povos tradicionais de
um modo geral. Foi nesse processo de educação que nos fez refletir, e nos inserir na condição de
protagonismo indígena da nossa própria
história. Então inicia um primeiro projeto de identificação das famílias
e da Terra Indígena Tupinambá a partir das visitas aos mais velhos e anciãos,
que ainda resistiam como verdadeiras bibliotecas vivas e com as informações
precisas para o fortalecimento, organização também o reconhecimento de uma
educação tupinambá que já existia, informalmente na Aldeia de Sapucaieira.
A primeira coisa emergente que começamos a fazer foi
confeccionar o nosso material didático específico. Mas, como era possível um
povo que não escrevia e obviamente não sabiam ler, iria construir esses
materiais que, na nossa perspectiva seria como, plantar uma enorme árvore que futuramente
daria os tão esperados frutos, que alimentaria essa educação pensada no
momento? Então fizemos muitas vezes oficinas pedagógicas para a construção de
materiais didáticos usando, caixa de
fósforo vazias pra confeccionar jogos silábicos, jogos matemátios, e jogo da
memória. As oficinas aconteciam com os educando da EJA e com as crianças, e
membros da comunidade que não estavam na sala propriamente, mas, que
participavam pois era envolvidos na dinâmica. Outro ponto importante era o
local ao qual era realizados tais oficinas.
Aprendemos que a apropriação do saber principalmente da
escrita tem um valor imensurável, e que podíamos ir muito mais além registrando
todos os fatos e informações importantes para as aldeias, no que diz respeito a
valorização cultural, fortalecimento étnica, social e ambiental fomentando a auto -sustentabilidade, a qual
contribui com a economia regional na
agricultura familiar. Essas informações nos ajudaram para pensar um conteúdo
para as aulas, principalmente para os adultos que sentia a escola como um
complemento do conhecimento que eles já sabiam e é claro que todos os valores
são agregados na nossa escola. Esse tempo todo em que estivemos na escola, nos
tornaram meros pesquisadores (as) com os alunos, outros professores (a),
lideranças e anciões, não dávamos conta de que, eram as nossas pesquisas que
eram repassadas para os alunos. As aulas diferenciadas são nada mais que,
oficinas de práticas de saberes e trocas de conhecimentos. Conhecimento que
eram transmitidos pelos anciões, verdadeiros Mestres da tradição oral.
A nossa primeira professora Pedrísia que aceitou e iniciou
a alfabetizar em espaço improvisado na casa de farinha onde seu pai Sr. Pedro
Brás tirava o sustento da sua família. “Diz Pedrísia:” os alunos tem contato
com o nosso trabalho do dia a dia e é sobre ele que agente constrói os nossos
conteúdos, por exemplo, um aluno escreveu uma letra do ritual porancin:
TEM UM MUNZUÁ, PRA MIM OIÁ,
TEM UM MUNZUÁ PRA MIM OIÁ;
EU OIEI TAVA CHEIO DE PIRÁ,
EU OIEI TAVA CHEIO DE PIRÁ,
A letra fala de um sonho, explica o curumim nhemboesara: e
durante dias foi trabalhada na sala de aula, (casa de farinha) como tema
gerador, pirá que é peixe na Língua
Tupi, e as expressões linguísticas que ainda não tinham relatos sobre o assunto
na aldeia.” Ainda com esse tema iniciou uma discussão sobre esse português
falado na comunidade, e então percebemos o quanto a academia nos discriminava.
Nesse
pensar, a educação diferenciada e comunitária do povo Tupinambá ainda tem
muitos desafios a serem enfrentados e um deles é, revitalizar a Língua Tupy já
quase esquecida, mas viva no dia a dia
das famílias nas comunidades .
[1]
Graduanda em Licenciatura Intercultural em Educação Escolar Indígena – LICEEI,
pela Universidade Estadual da Bahia – UNEB. Licenciada em Língua Portuguesa e
Artes pelos Estudos Caxiense - EAD-Salvador.
[2]
Graduando em Licenciatura Intercultural em Educação Escolar Indígena – LICEEI,
pela Universidade Estadual da Bahia – UNEB
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