UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA –
UNEB
CAMPUS-X TEIXEIRA DE FREITAS-BAHIA
LICEEI-LICENCIATURA INTERCULTURAL EM EDUCAÇAO ESCOLAR INDÌGENA.
PROFESSORA:MARIA NAZARÉ MOTA DE LIMA
ALUNOS:MARILENE FERREIRA, SADRAQUE F. DOS SANTOS, GEANE BONFIM, MARIA HILDA SANTANA.
CAMPUS-X TEIXEIRA DE FREITAS-BAHIA
LICEEI-LICENCIATURA INTERCULTURAL EM EDUCAÇAO ESCOLAR INDÌGENA.
PROFESSORA:MARIA NAZARÉ MOTA DE LIMA
ALUNOS:MARILENE FERREIRA, SADRAQUE F. DOS SANTOS, GEANE BONFIM, MARIA HILDA SANTANA.
COMPONENTE CURRICULAR:LINGUA
PORTUGUESA E SOCIOLINGUÍSTICA INDÍGENA II.
Práticas
pedagógicas e movimentos indígenas: Reflexão sobre as praxes
Adriana
Pesca, Emanoel Braz, Pedro José Neves
Teixeira
de Freitas
Janeiro
-2013
A educação escolar indígena
é um marco para as sociedades indígenas que lutaram muito por sua conquista e
até hoje lutam para que sua manutenção seja garantida com a dignidade
necessária. Há muito, os movimentos indígenas têm como princípio de suas lutas,
além da demarcação de seus territórios, a busca por melhorias em nossa educação
e mudanças em seu sistema que possam, de fato, atender o que nos garante a
legislação. É possível que diante de nossas conquistas, tenhamos uma prática
pedagógica que nos permite atender aos diferentes anseios de nossa comunidade,
tendo como base a nossa cultura sem, no entanto, desvinculá-la das necessidades
de apreensão da cultura que está em nosso entorno, porém, ainda é preciso
caminhar em muitas direções para alcançarmos o todo que compete àquilo que
queremos dizer quando falamos de “Educação diferenciada e específica”, onde
nossa autonomia seja realmente respeitada.
A realidade atual das
escolas brasileiras, em sua maioria, ainda reflete em si os estigmas da dominação
exercendo um forte papel nas relações de poder existentes na sociedade. Nossa
escola indígena, com todo o seu diferencial, ainda sofre com as intervenções em
torno de tais relações de poder, com suas tentativas de colocar educandos e
educadores indígenas na posição de dominados, no sentido de que, ainda precisamos
responder às expectativas e burocracias da entidade que a mantém e desse modo,
limitando nossas possibilidades de exercermos nossa autonomia.
Diante disso, cabe-nos uma
intensa reflexão sobre a escola que sonhamos, cujos objetivos sejam claramente
compreendidos e respeitados e cujos conteúdos programáticos se encaixem à nossa
realidade e necessidade, e não o contrário. Que ao mesmo tempo em que possamos
praticar a nossa cultura e difundi-la às nossas gerações, possamos também estar
instrumentalizados apoderando-nos dos elementos da “branquitude” para fortalecimento
de nossas lutas, fazendo deles novos instrumentos para o enfrentamento de
situações diversas que permeiam os vários contextos a que estamos inseridos,
bem como, estabeleçamos a clara consciência de nosso “direito de sermos
sujeitos”.
FREIRE, em seu livro
Pedagogia da Tolerância, em um texto subintitulado Escola, Ideologia e
contradição, fala-nos sobre a denominação dada à escola, pelo filósofo marxista
francês Althusser, que a chamava de “o aparato de reprodução ideológica do
estado, portanto, da sociedade política, portando, da classe dominante.” Diante
disso alargamos nossa reflexão acerca do que para nós indígenas quer dizer escola,
ambiente onde a educação escolar indígena está diretamente atrelada à educação
indígena, aos anseios coletivos da comunidade, bem como dos próprios povos
indígenas em sua totalidade, a vivência cultural e seus valores refletidos em
nossas ações cotidianas, o respeito à nossa ancestralidade. De modo, que a
ideologia por trás do processo educacional suplantado pelo poder dominante está
longe de contemplar a nossa própria, embora, ainda continuemos a fincar pé para
que esta, não seja exercida em nossa educação. Para isso, buscamos o
fortalecimento, dentre outras coisas, na reconfiguração estabelecida dentro da
própria configuração do dominante.
A reflexão sobre as nossas
praxes leva-nos a dois momentos distintos, o primeiro tido através de nossas
experiências em sala de aula, por meio das quais nossas práticas pedagógicas se
consolidam, conduzem-no ao reconhecimento daquilo que já foi alcançado, a
possibilidade de uma educação pensada por nós e para nós, em que, mesmo em meio
às dificuldades decorrentes do sistema educacional, a falta de suporte das instituições
mantenedoras, os impasses burocráticos que nos impedem, por exemplo, de
desvincular os recursos direcionados à educação escolar indígena da verba
municipal, o que na maioria das vezes gera um grande desgaste, é o caso da
merenda escolar que, por não possuir uma autonomia (ainda que garantida por
lei) para a sua administração, se vê limitada quanto à especificidade da
alimentação necessitada pela escola em dadas ocasiões, como em comemorações
culturais promovidas pela escola, além de outros muitos fatores voltados para
transporte, material didático, premiações para projetos específicos, manutenção
do espaço físico, segurança, etc., é capaz de manter-se firme em seus
propósitos ideológicos em que a afirmação de nossa identidade é algo
primordial.
O segundo, dada à realidade
de nossas comunidades que se diferenciam de acordo com sua localidade, cujas
demandas são distintas entre si, embora, com os mesmos objetivos no que se
refere à educação específica e diferenciada para os povos indígenas, diz
respeito aos impasses gerados pelo poder maior representado através das
instâncias governamentais, interferindo em nossa propriedade de consolidar a
educação diferenciada e de qualidade como ansiamos, de modo que ainda nos
deparamos com a impossibilidade de conduzir nossa educação da maneira almejada
pelos nossos antepassados e líderes que tomaram a frente de nossas
reivindicações e abriram os caminhos por onde hoje passamos.
Concluímos que, a educação
indígena específica, diferenciada, intercultural, comunitária, multilingue e de
qualidade, embora, por meio de nossas tentativas tenha caminhado por esses
vieses, ainda não está contemplada na diferenciação e especificidade nela
estabelecida e é possível que, após anos de colonização, ainda nos deparemos
com situações de dominação. Cabe aqui então, enfatizar que está em nossas mãos,
professores indígenas, a responsabilidade de levar adiante os desejos plantados
por nossas lideranças e comunidade quando pensaram nossa educação, para que hoje, na condição de professores e
acadêmicos de um ensino voltado para a nossa cultura tenhamos instrumentos que
abram caminhos para as novas discussões sobre a educação e inserção de nossos
educandos na luta do povo. Está em nossas mãos a possibilidade de reescrever a
nossa história de modo que sejamos os protagonistas na construção concreta da
escola de nossos sonhos.
Referência Bibliográfica
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Tolerância. São
Paulo: UNESP, 2004.
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