quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Trabalho em grupo: Adriana Pesca, Emanoel Braz, Pedro José Neves



 

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
CAMPUS-X TEIXEIRA DE FREITAS-BAHIA
LICEEI-LICENCIATURA INTERCULTURAL EM EDUCAÇAO   ESCOLAR INDÌGENA.
PROFESSORA:MARIA NAZARÉ MOTA DE LIMA
ALUNOS:MARILENE  FERREIRA, SADRAQUE  F. DOS SANTOS, GEANE BONFIM, MARIA HILDA SANTANA.
COMPONENTE CURRICULAR:LINGUA PORTUGUESA E SOCIOLINGUÍSTICA INDÍGENA II.   





Práticas pedagógicas e movimentos indígenas: Reflexão sobre as praxes


Adriana Pesca, Emanoel Braz, Pedro José Neves















Teixeira de Freitas
Janeiro -2013
A educação escolar indígena é um marco para as sociedades indígenas que lutaram muito por sua conquista e até hoje lutam para que sua manutenção seja garantida com a dignidade necessária. Há muito, os movimentos indígenas têm como princípio de suas lutas, além da demarcação de seus territórios, a busca por melhorias em nossa educação e mudanças em seu sistema que possam, de fato, atender o que nos garante a legislação. É possível que diante de nossas conquistas, tenhamos uma prática pedagógica que nos permite atender aos diferentes anseios de nossa comunidade, tendo como base a nossa cultura sem, no entanto, desvinculá-la das necessidades de apreensão da cultura que está em nosso entorno, porém, ainda é preciso caminhar em muitas direções para alcançarmos o todo que compete àquilo que queremos dizer quando falamos de “Educação diferenciada e específica”, onde nossa autonomia seja realmente respeitada.
A realidade atual das escolas brasileiras, em sua maioria, ainda reflete em si os estigmas da dominação exercendo um forte papel nas relações de poder existentes na sociedade. Nossa escola indígena, com todo o seu diferencial, ainda sofre com as intervenções em torno de tais relações de poder, com suas tentativas de colocar educandos e educadores indígenas na posição de dominados, no sentido de que, ainda precisamos responder às expectativas e burocracias da entidade que a mantém e desse modo, limitando nossas possibilidades de exercermos nossa autonomia.
Diante disso, cabe-nos uma intensa reflexão sobre a escola que sonhamos, cujos objetivos sejam claramente compreendidos e respeitados e cujos conteúdos programáticos se encaixem à nossa realidade e necessidade, e não o contrário. Que ao mesmo tempo em que possamos praticar a nossa cultura e difundi-la às nossas gerações, possamos também estar instrumentalizados apoderando-nos dos elementos da “branquitude” para fortalecimento de nossas lutas, fazendo deles novos instrumentos para o enfrentamento de situações diversas que permeiam os vários contextos a que estamos inseridos, bem como, estabeleçamos a clara consciência de nosso “direito de sermos sujeitos”.
FREIRE, em seu livro Pedagogia da Tolerância, em um texto subintitulado Escola, Ideologia e contradição, fala-nos sobre a denominação dada à escola, pelo filósofo marxista francês Althusser, que a chamava de “o aparato de reprodução ideológica do estado, portanto, da sociedade política, portando, da classe dominante.” Diante disso alargamos nossa reflexão acerca do que para nós indígenas quer dizer escola, ambiente onde a educação escolar indígena está diretamente atrelada à educação indígena, aos anseios coletivos da comunidade, bem como dos próprios povos indígenas em sua totalidade, a vivência cultural e seus valores refletidos em nossas ações cotidianas, o respeito à nossa ancestralidade. De modo, que a ideologia por trás do processo educacional suplantado pelo poder dominante está longe de contemplar a nossa própria, embora, ainda continuemos a fincar pé para que esta, não seja exercida em nossa educação. Para isso, buscamos o fortalecimento, dentre outras coisas, na reconfiguração estabelecida dentro da própria configuração do dominante.
A reflexão sobre as nossas praxes leva-nos a dois momentos distintos, o primeiro tido através de nossas experiências em sala de aula, por meio das quais nossas práticas pedagógicas se consolidam, conduzem-no ao reconhecimento daquilo que já foi alcançado, a possibilidade de uma educação pensada por nós e para nós, em que, mesmo em meio às dificuldades decorrentes do sistema educacional, a falta de suporte das instituições mantenedoras, os impasses burocráticos que nos impedem, por exemplo, de desvincular os recursos direcionados à educação escolar indígena da verba municipal, o que na maioria das vezes gera um grande desgaste, é o caso da merenda escolar que, por não possuir uma autonomia (ainda que garantida por lei) para a sua administração, se vê limitada quanto à especificidade da alimentação necessitada pela escola em dadas ocasiões, como em comemorações culturais promovidas pela escola, além de outros muitos fatores voltados para transporte, material didático, premiações para projetos específicos, manutenção do espaço físico, segurança, etc., é capaz de manter-se firme em seus propósitos ideológicos em que a afirmação de nossa identidade é algo primordial.
O segundo, dada à realidade de nossas comunidades que se diferenciam de acordo com sua localidade, cujas demandas são distintas entre si, embora, com os mesmos objetivos no que se refere à educação específica e diferenciada para os povos indígenas, diz respeito aos impasses gerados pelo poder maior representado através das instâncias governamentais, interferindo em nossa propriedade de consolidar a educação diferenciada e de qualidade como ansiamos, de modo que ainda nos deparamos com a impossibilidade de conduzir nossa educação da maneira almejada pelos nossos antepassados e líderes que tomaram a frente de nossas reivindicações e abriram os caminhos por onde hoje passamos.
Concluímos que, a educação indígena específica, diferenciada, intercultural, comunitária, multilingue e de qualidade, embora, por meio de nossas tentativas tenha caminhado por esses vieses, ainda não está contemplada na diferenciação e especificidade nela estabelecida e é possível que, após anos de colonização, ainda nos deparemos com situações de dominação. Cabe aqui então, enfatizar que está em nossas mãos, professores indígenas, a responsabilidade de levar adiante os desejos plantados por nossas lideranças e comunidade quando pensaram nossa educação,  para que hoje, na condição de professores e acadêmicos de um ensino voltado para a nossa cultura tenhamos instrumentos que abram caminhos para as novas discussões sobre a educação e inserção de nossos educandos na luta do povo. Está em nossas mãos a possibilidade de reescrever a nossa história de modo que sejamos os protagonistas na construção concreta da escola de nossos sonhos.



Referência Bibliográfica
 FREIRE, Paulo. Pedagogia da Tolerância. São Paulo: UNESP, 2004.



















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